terça-feira, 16 de julho de 2013

Férias: A Lenda do Batatão

Quem nunca ouviu falar na lenda do Batatão? Bem, como todos já sabem eu nasci em Fortaleza, mas em minhas férias sempre eu vinha para a casa de minha avó em Melancias de Baixo e era nas rodas de conversas com os meninos de lá que o Batatão era o assunto que mais predominava. Eram estórias contadas sempre com nuances e requintes assustadores.  Eles diziam que quando uma criança morria sem ser batizada virava com certeza um tal de Batatão.

A descrição do Batatão assemelhava-se a uma bola de fogo que perseguia as pessoas, principalmente durante à noite. Dentre estas estórias e lendas que ouvi muito na casa de minha avó, bem como,  da assombração da quixabeira do galo, da mula sem cabeça, do lobisomem, o bicho que eu mais temia era com certeza o tal do Batatão.

Na sessão noturna de contos nas areias alvas de Melancias de Baixo, cada um se esforçava para relatar a melhor história de assombração com toda atenção possível.A sonoplastia ficava por conta da zuada dos coqueiros, do miado dos gatos e dos galos cantando fora de hora. Pois bem, eu sempre ficava morrendo de medo, mas fiquei mais amedrontado mesmo quando meu pai disse que havia visto um Batatão. Lembro ainda hoje a cara dos meninos quando fui lhes contar toda a estória do Batatão que perseguiu meu pai.

Tudo aconteceu quando ele veio numa de suas viagens de Fortaleza-Ce para cá exatamente para compor a sua família tendo em vista que todo o resto de nós já havia vindo antes para aproveitar melhor as férias. Nessa época o ônibus de passageiros da capital cearense só vinha somente até o Berimbau.

" Ele chegou já boquinha da noite no ônibus, daí ele veio sozinho cortando cercados pela várzea e optou sair na praia, nas proximidades de Quitérias e Tremembé, estratégia usada por ele  para facilitar o seu caminho, pois ele mesmo já estava consciente que poderia ficar perdido entre o carnaubal.

Nessa época eu devia ter os meus sete anos de idade. Lembro bem ainda quando ele chegou na casa de minha avó pela madruga e nosso medo em abrir a porta, após recebê-lo não foi difícil perceber que ele carregava em seu semblante o medo de alguma coisa, e não era só pra ganhar o afago de minha mãe e aliviar o seu cansaço.

Bem, fomos dormir e no outro dia ele fez uma grande revelação, que havia visto uma bola de fogo que o perseguiu de Tremembé a Melancias de Baixo, ainda me arrepio até hoje. Só sei que foi assim.

O Batatão

O Batatão é uma das assombrações mais conhecidas, mas não é uma tradição exclusiva do município. É muito comum encontrar essa mesma narrativa em todas as regiões do Brasil.Em outros lugares também pode ser chamado de Boitatá, Baitatá, Bitatá, Fogo-fátuo, Fogo Corredor e até mesmo de Fogo da Comadre com o do Compadre. Trata-se de uma bola de fogo que afugenta as pessoas, perseguindo os desavisados durante a noite ou simplesmente vagando errante com sua luz brilhante.

O Batatão aparece nas matas e nos manguezais, especialmente nos lugares mais úmidos, e quem vê sua luz na noite pode ficar cego ou enlouquecer. Muitas pessoas afirmam que o fenômeno é apenas uma alma penada, pagando seus pecados, como ocorre em Portugal e é chamado de alminhas.

Quando o Batatão é visto em dobro, vagando ou girando pelos ares, é chamado de o Fogo da Comadre com o do Compadre. Esse fenômeno é reconhecidamente de beleza impar, mesmo sendo absolutamente estranho em sua cor rubra e esmeralda extremamente brilhante. A denominação é geralmente confundida com batata grande pelos que não conhecem a narrativa. A palavra Batatão é de origem tupi, a partir da expressão mbaê-tata, que significa coisa de fogo, ou mboa-tata, que significa cobra de fogo. O padre José de Anchieta, ainda no século 16, descreveu esse fenômeno com o nome de mbaê-tatá. Dizia ser assombração em forma de um facho de luz que aparecia junto ao mar e aos rios, e que era bastante temida pelos índios (CASCUDO, p. 130, 2000). Entre as muitas lendas indígenas, existe a de um monstro em forma de cobra que sobreviveu a um grande dilúvio enterrado em um buraco. Esse monstro chama-se Boitatá e mora nas profundezas dos rios, onde acostumou-se a enxergar no escuro e, por isto, seus olhos cresceram. Durante o dia ele é quase cego, mas durante a noite vê quase tudo e sai para se alimentar de restos de animais. Há quem diga que são dos olhos dos animais de que ele se alimenta a fonte de sua luminosidade. Entretanto, nem sempre o Batatão é visto como mau, pois se torna uma espécie de protetor das matas contra os estranhos e incendiários.

Diversas culturas no mundo tentaram explicar o fenômeno dessas bolas de fogo criando mitos e lendas. O mesmo Batatão aparece também em outros países como a França, Alemanha, Portugal e Inglaterra, onde recebe outros nomes como lanterna, alminhas e farol. Essa assombração pode ser explicada pela produção natural de gás metano devido a as condições favoráveis de fermentação de matéria orgânica no manguezal. Em condições especiais de pressão e temperatura, o metano pode sair do solo e se misturar com o oxigênio do ar.
Dependendo da concentração, o metano pode se inflamar espontaneamente, sem necessidade de uma faísca, causando uma combustão natural em forma de uma chama azulada de curta duração e gerando um pequeno ruído, que causa a impressão de um fenômeno sobrenatural. Se um indivíduo estiver próximo e correr, o deslocamento do ar levar a chama junto.

O Batatão está muito ligado aos fenômenos sobrenaturais ou extraterrestres. Sua aparição é muito confundida com aparições de discos voadores ou visões de fenômenos sobrenaturais. Há também a possibilidade do Batatão ser uma concentração de bactérias fosforescentes que absorvem a luz durante o dia e a liberam durante a noite como parte do seu ciclo biológico. Muito embora seja reconhecido como uma entidade sobrenatural, as evidências científicas comprovam a existência do Batatão como um fenômeno comum em áreas pantanosas. 

fonte: http://historiadecanguaretama.blogspot.com.br/2010/06/o-batatao.html

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