Já fazem 77 anos que foi assassinado na sede do Distrito de Ibicuitaba o jovem militar fortalezense João Tavares de Souza. Foi exatamente no dia 10 de maio de 1936 que este fato lamentável ocorreu em território aracatiense, visto que o município de Icapuí não era ainda emancipado da Cidade de Aracati-Ce.
O livro entitulado, Aldeia do Areal, do escritor e sociólogo Manoel de Freitas Filho faz um resgate desse triste fato e remonta o tempo histórico através do depoimento importante de Francisco Guilherme de Souza, preso político da época que foi torturado e humilhado na prisão de Ilha Grande-RJ, acusado por desordem e por ser um comunista de alta periculosidade.
Guilherme relata que o jovem João Tavares fez intersecção a organização dos trabalhadores das salinas norte rio-grandenses após ter tornado-se desertor do exército brasileiro. Ele veio para o estado do Rio Grande do Norte para reforçar a organização dos trabalhadores das Salinas da região de Mossoró-RN, Grossos-RN e Areia Branca-RN.
Tal organização dos trabalhadores salineiros foi bastante reprimida pelo estado brasileiro e ficou conhecida como o Sindicato do Garrancho, uma vez que as suas reuniões aconteciam na mata da caatinga e tinham como objetivo lutar por melhores condições de trabalho. Ná época o Partido Comunista do Brasil constituía a principal base ideológica para esses trabalhadores e o Rio Grande do Norte era um dos palcos da Intentona Comunista.
Ainda segundo Guilherme, a contribuição de João Tavares ao movimento dos trabalhadores salineiros foi passageira, pois o mesmo já encontrava-se quase no final, principalmente por ter sido duramente reprimido pelas forças armadas e pela policia militar estadual, ocorrendo inclusive a prisão do testemunho ocular, o depoente desta história de resistência por melhores condições trabalho, o Senhor Francisco Guilherme de Souza, mas mesmo com todo aparato militar no Rio Grande do Norte, João conseguiu escapar para o estado do Ceará, buscando refúgio na residência de familiares na comunidade do Berimbau.
Nessa época a delegacia de Areias (hoje Ibicuitaba) já contava com um plantel de soldados bem acima do normal. Em 10 de maio de 1936 militares chegam a Areias com a determinação de caçar vivo ou morto todos os subversivos, bandidos de alta periculosidade desse movimento.
Os militares iniciam uma procura incessante na fronteira entre RN-CE, fazem campanha para capturar, segundo eles,“os tais bandidos” que poderiam estar escondidos em território Icapuiense e dessa feita não foi difícil encontrar e efetuar a sua prisão e depois conduzi-lo a Delegacia de Areias.
No horário do almoço dos policiais, João consegue escapar, possivelmente a fuga foi facilitada por outro militar simpatizante do movimento. O desfecho da vida deste jovem de 23 anos, de 01 de abril de 1913, acaba nas proximidades da estrada que dá acesso a comunidade de Quitérias quando ele é alvejado pelo Cabo Domingos com um tiro de escopeta a queima roupa.
Não fosse à intervenção do pároco Padre Magalhães, João Tavares não teria tido o seu sepultamento no cemitério de Ibicuitaba e os seus restos mortais não estariam sob uma tumba simples quase na entrada do cemitério local, pois segundo populares o seu corpo ficou exposto quase três dias e que alguns militares pretendiam queimá-lo, como uma demonstração de medo para quem tentasse seguir o comunismo.
Sempre que o resgate desta história é realizado, faz-se necessário destacar a honrosa e relevante contribuição do escritor icapuiense Manoel de Freitas Filho que se dedicou a pesquisar este e outros assuntos obscuros da nossa história.
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