Naufrágio em Icapuí pode ter sido de um navio sueco
23.05.2013
Correntes encontradas levaram pescadores a pensar que a embarcação era um navio negreiro
A Capitania dos Portos, que enviará estudiosos ao local, pede que a população mantenha a distância necessária para não danificar os vestígios. Moradores e políticos querem o incentivo do turismo histórico do Ceará. Hoje será apreciado, na Câmara Municipal de Aracati, sobre a possibilidade de audiência para tratar do acervo no mar.
"O mais importante é descer na área para pegar algum elemento que possa dar origem ao barco. Não temos como antecipar. No passado, as informações geográficas eram muito escassas", explica Augusto, que, embora tenha sabido nesta semana do achado dos pescadores, já esperava vestígio de naufrágios naquela região.
O pescador Pedro José e outros dois da tripulação encontraram pedaços de uma embarcação naufragada no mar de Icapuí, cerca de três quilômetros distante da praia. Havia ossos e muitas correntes, o que levou os pescadores a acreditarem ter encontrado restos de um navio negreiro, que traficava negros escravizados no período colonial. De fato, o mar de Icapuí foi rota para esses navios, mas também de vários outros. Alguns, com história de ocupação de escravos, mas foram muitos outros os fins de embarcações, em que de destacaram a atividade mercantil e militar.
Proposta
Será colocada em pauta hoje, na Câmara Municipal de Icapuí, proposta do vereador Marcos Nunes para realização de audiência pública para tratar do reconhecimento dos vestígios como patrimônio histórico de Icapuí.
Esses mares podem ter sido navegados antes mesmo de Pedro Álvares Cabral, que desembarcou em abril de 1500. Três meses antes, conforme lembrou o pesquisador Rodolfo Espínola, o navegador espanhol Vincente Pizón teria chegado a Fortaleza, mais especialmente no Mucuripe, batizando ali de Santa Maria de La Consolacion. O próprio Pinzon teria, segundo relatos historiográficos, passado por Icapuí (especificamente na praia de Ponta Grossa), onde teria reabastecido com água as naus.
Foi no pedaço de mar em frente à praia de Ponta Grossa que deu-se o "naufrágio das espoletas". Uma embarcação militar com munição não completou viagem e afundou logo ali. Na própria comunidade de Ponta Grossa é possível encontrar objetos do naufrágio, bem como de outros, com moradores que, de forma espontânea, decidiram preservar a história do que vinha além-mar. Em junho do ano passado, os vestígios da embarcação foram desbravados, mar a dentro, por entusiastas do mergulho científico.
Mergulho
"Partimos às 6h30 da manhã em uma jangada a motor e logo chegamos ao primeiro ponto marcado. Após um rápido mergulho de reconhecimento constatei uma profundidade de 3m e visibilidade zero. Equipamo-nos e iniciamos a busca utilizando o padrão circular com o auxilio de uma carretilha. Próximo ao fim do primeiro mergulho a carretilha laçou algo! Logo no primeiro mergulho! Uma ponta de ferro completamente coberta por concreções emergia do fundo arenoso. E logo encontramos outra, e outra e outra. Várias pontas de ferro emergiam da areia evidenciando que algo se escondia ali. Pelas várias camadas de concreção que recobriam as "pontas" metálicas podemos sugerir que tínhamos um naufrágio há muito tempo enterrado ali. Fizemos algumas medições e marcamos os pontos exatos. Alguns pontos identificados ficava a mais de 15m dos outros seguindo um padrão linear, sendo a distancia máxima de 17m. Agora tínhamos a certeza de estar estudando um naufrágio".
O relato é do mergulhador Marcus Davis, contado no blog Mar do Ceará (mardoceará.blogspot.com.br), que reúne histórias com amantes da prática do mergulho no mar.
FIQUE POR DENTROEmbarcações sucumbiram na costa cearenseO brigue sueco Express, que afundou no mar próximo a Icapuí era um barco rápido, de carga. Teria partido de Aracati e batido num banco de terra, sofrendo muitos danos e afundando, em 1873. No passado, as informações cartográficas eram pouco claras e por isso muitos navios naufragaram no Ceará - pelo menos 90 embarcações em toda a costa. Em diferentes épocas, e por diferentes motivos, embarcações sucumbiam no mar, especialmente próximo ao litoral Leste, entre Aracati e Icapuí, um verdadeiro ponto de rota de quem vinha da Europa para as Américas (vice-versa). Um caso emblemático de navio negreiro foi o Laura, que incendiou com muitos escravos, após um motim. Os escravos fugiram e a embarcação aportou nas proximidades da praia da Caponga, em Cascavel. Parte do navio está, atualmente, no Museu do Ceará.Brigue é é um tipo de embarcação à vela, com dois, por vezes três mastros e muito usado nas guerras da Independência dos Estados Unidos .
Mais informações:
Capitania dos Portos do Ceará
Avenida Vicente de Castro, 4917 - Mucuripe - Fortaleza
Telefone: (85)3133-5100
www.mar.mil.br/cpce
MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER
Hoje:
Os vereadores Kleiton Pereira do PMDB e Eurivam de Paula do PT subscreveram o requerimento que solicita a realização de audiência pública para tratar do assunto mencionado acima, antes o mesmo foi apresentado previamente pelo vereador Marcos Nunes do PCdoB do qual foi aprovado na sessão ordinária realizada no dia de hoje, 23/05/2013 e a sua realização segue agora para a definição da data e programação da mesma.
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